Maior virtude do Flamengo de Filipe Luís é ‘atrair para acelerar’


Se alguém propusesse o exercício de definir em poucas palavras a maior virtude do Flamengo de Filipe Luís neste 2025, talvez a melhor resposta fosse “atrair para acelerar”. O time rubro-negro é a melhor ilustração de como um passe atrás, de um volante para um zagueiro, ou mesmo de um zagueiro para um goleiro, pode ser o início de uma manobra ofensiva vertiginosa. Ou mesmo que o zagueiro literalmente pisando na bola, aguardando parado a chegada de um marcador, não significa lentidão. Ao contrário, pode preceder arrancada.

É curioso como, por vezes, este Flamengo parece preferir que o adversário o pressione, ou mesmo parece induzir o rival a fazê-lo. E esta alternância de ritmo, da pausa à aceleração, ditou os rumos da vitória sobre o Grêmio. Por grande parte do jogo, a partida teve o rumo que os rubro-negros quiseram. E o segundo gol foi um retrato fiel da armadilha proposta por Filipe Luís.

Após De La Cruz ganhar uma disputa no centro do campo, a bola retornou ao goleiro Rossi, que aguardou o tempo necessário para que quatro gremistas chegassem para pressionar. Quando a bola chegou a De La Cruz, o que se viu foi uma coordenada sucessão de jogadas com um padrão: meias ou atacantes, de costas para o gol atacado pelo Flamengo, vindo em apoio arrastando consigo defensores do Grêmio. Tudo isso para liberar o espaço às costas dos gremistas. Primeiro, De La Cruz achou Arrascaeta, que tirara o lateral João Pedro do lugar. A bola voltou a De La Cruz, que logo viu Cebolinha correndo na direção do campo de defesa rubro-negro, trazendo consigo Jemerson. Estava aberto o enorme espaço na zaga do Grêmio, e foi neste espaço que Cebolinha acionou Arrascaeta.

O primeiro tempo já dera o tom, com os zagueiros do Flamengo atraindo a pressão de Pavón e Braithwaite. Com isso, De La Cruz, Pulgar, Arrascaeta e Gérson faziam um 4 contra 3 no meio-campo gremista. Ou sobrava um jogador rubro-negro, ou um defensor do time gaúcho era obrigado a deixar seu lugar para compensar. E, assim, abria espaço. Assim saiu o primeiro gol. Assim surgiram outras situações de perigo. É a especialidade deste time.

Não é banal ir a Porto Alegre e vencer com tanto conforto. O que não significa que a atuação do Flamengo não tenha reforçado pontos de alerta. Um deles se expressa numa das estatísticas do primeiro tempo: os rubro-negros foram para o vestiário com apenas três finalizações. Era muito pouco não só diante do domínio, mas diante da quantidade razoável de ataques que se insinuavam perigosos, mas não terminavam em arremate.

Muito tem sido dito sobre a dificuldade do time em finalizar, em converter oportunidades. No entanto, esta é uma parte da questão. A formação do elenco, com poucos jogadores que se sentem confortáveis perto do gol, leva o time muitas vezes a criar menos oportunidades reais do que deveria: em Porto Alegre, muitos lances promissores morriam antes do passe final.

O trabalho de Filipe Luís é notável, o que se traduz na frequência com que o Flamengo domina seus rivais. O desafio é lidar com um problema de formação do elenco: o time precisa de mais jogadores íntimos do gol. A volta de Pedro pode ser um alento, mas não é justo colocar todo o peso num jogador que vem de uma lesão grave.

No mais, a vitória de Porto Alegre tem a marca de Arrascaeta. No atual elenco, é a peça do setor ofensivo que tem uma classe superior. Para tanto, vem sendo usado com moderação, alvo de contínua preocupação com seu estado físico. Quando o uruguaio marcou seu segundo gol, sua finalização foi de tal forma delicada, precisa, que Arrascaeta parecia dar um passe na direção da rede. Se o problema do Flamengo é finalizar, o camisa 10 resolveu a questão com um passe para o gol.

Claro que a imensa maioria dos que foram ao Maracanã queria ver o Fluminense. Mas a presença de 46 mil pessoas também se justificava por Neymar. Ele jogou 45 minutos em seu retorno, e outra vez se mostrou distante da melhor versão. Já o tricolor teve 25 minutos de bom nível em termos ofensivos. Mas foi caindo, e o segundo tempo foi bem pobre dos dois lados. No instante final, a sorte sorriu no chute desviado de Samuel Xavier.

Controlar jogos, em geral, encurta o caminho para vencer. E, neste aspecto, o Vasco ainda tem bastante a melhorar. Mas, quase sempre,partidas de futebol acabam sendo resolvidas nas duas áreas. E, neste ponto, o time tem quem faça muita diferença. Vegetti voltou a mostrar, no sábado, que pode dar três pontos ao Vasco mesmo quando o time não domina o rival. Contra o Sport, o Vasco teve mais gol do que jogo. Porque teve Vegetti.

Em Bragança, o Botafogo sucumbiu à pressão dos donos da casa. Faz sentido o planejamento de pisar no freio nos primeiros meses do ano. Mas o efeito colateral da demora em montar elenco e trazer um treinador é viver, em abril, um início de temporada. O supercampeão de 2024 ainda busca identidade e vive uma incerteza: se os reforços lhe darão os 35 gols e 10 assistências que se foram com Luiz Henrique, Almada e Júnior Santos.



Fonte: Netfla

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